Apesar de sempre ter me interessado pelo universo da fotografia, ela apareceu para mim como uma possibilidade profissional de forma tardia, quase aos 30 anos. Assumir que poderia ser fotógrafo foi somente possível depois de equacionar outras questões pessoais.

A fotografia é para mim um canal de expressão. Desde o início tive a clareza que era só por meio da fotografia, e não qualquer outra forma de interação com o mundo, que minhas questões mais íntimas se manifestavam.

Aos poucos descobri que fotografar meu cotidiano, a vida ordinária que me cerca, cria espaço para um mergulho a universos intocados dentro de minha alma. Descobrir essa poesia no banal é descobrir a magia da vida. Apenas me aprofundando em meu universo interior, até alcançar o que é essencial e original em mim, posso encontrar códigos universais que falam também da vida de outras pessoas.

A Helena há muito tempo faz parte do meu imaginário visual. Antes mesmo de nos tornarmos amantes. Descobrir sua alma e me apaixonar por ela, foi possível também por causa da fotografia.

Fotografar e construir um relato poético de nossa vida juntos foi algo sempre tão natural quanto vital. Nossa intimidade e cumplicidade me permitem tê-la como meio para acessar questões essenciais em mim.

Seu mistério é canal de acesso para meus mistérios. Suas sombras para as minhas. Sua sensualidade, nossa sensualidade. Nossa força, nossa fragilidade.

É nesse emaranhado e nessa imersão que construo meu diário visual e tento encontrar caminhos que possam também comunicar e construir experiências poéticas no outro. A Helena deixa de ser minha parceira e amante para se tornar personagem de um imaginário, em primeiro instante meu, mas, em um segundo momento, quem sabe, universal.

Marcelo Greco

“…Relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza – relate tudo isso com íntima e humilde sinceridade; e para se expressar use as coisas que o cercam, os pertences de seus sonhos e os objetos de suas lembranças. Quando sua vida diária parecer estéril, não a culpe; culpe-se e diga a si mesmo que você não é poeta o suficiente para invocar suas riquezas; …”

Rainer Maria Rilke